ENTÃO VOCÊ QUER SER UM HERÓI?
TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO NA REVISTA DE LITERATURA EM 2018
Por que será que as histórias de heróis e heroínas nos fascinam tanto? O que há de comum nos caminhos dos heróis/heroínas de todos os tempos? Há diferenças entre os heróis/heroínas ocidentais e orientais? Qual a linguagem utilizada para transmitir as histórias de heróis/heroínas? Será que essa linguagem tem a ver com esse fascínio?
Foi pensando nessas perguntas que Joseph Campbell começou a estudar mitos e compará-los ainda na primeira metade do século XX.
Ele tinha disponível muito material de análise dos etnólogos e antropólogos que vieram antes dele como James Fraser e que conseguiram compilar inúmeras histórias míticas de vários países do mundo, pois contavam com muitos ajudantes para essa tarefa. Porém, eles tratavam cada um dos mitos de forma diferenciada, ainda que indicassem alguns pontos em comum.
Foi Campbell quem primeiro se ocupou em ligar esses pontos e perceber que as semelhanças eram maiores que as diferenças quando se tratavam as histórias por meio de seus símbolos e metáforas.
Mito e Metáfora
Certa vez, quando Campbell já estava famoso, foi convidado para uma entrevista numa rádio. O apresentador foi logo avisando que era uma pessoa difícil, um cético.
Assim que começou disse:
“Bem, mito é uma mentira”
“Não, mito não é uma mentira”, disse Campbell. “Uma mitologia completa é uma organização de imagens e narrativas simbólicas, metafóricas das possibilidades de experiência humana e da realização de determinada cultura em certo momento”.
“Mito é uma mentira” redarguiu o apresentador.
“Não, mito é uma metáfora” retrucou Campbell.
E ficaram nessa discussão por algum tempo, até que nos minutos finais Campbell pediu ao apresentador que desse a ele um exemplo de metáfora. O apresentador engasgou, mas ao final arriscou:
“Meu amigo John corre muito, dizem que ele corre como um veado”.
Campbell sorriu e disse: “Isso não é uma metáfora, a metáfora correta seria: John é um veado”.
“Mas isso é uma mentira!” bradou o apresentador.
“Não, isso é uma metáfora” terminou Campbell.
A questão é como podemos compreender os mitos e histórias ancestrais, como os contos de fadas e as lendas. Se analisarmos seu conteúdo simbólico, percebemos indicadores que sinalizam etapas ou situações semelhantes em todas elas. Esses símbolos tomam sentido quando analisados como metáforas. Uma metáfora é um campo de significados e, portanto, um conjunto de significações possíveis.
Quando o apresentador disse a Campbell que “John corre como um veado” fez, na verdade uma analogia, pois forneceu o critério ou qualidade comparativa (correr como). Já na frase “John é um veado” não se sabe o que se quer comparar entre John e o veado. Justamente por isso, inúmeros significados e interpretações poderiam ser analisados. Uma metáfora é aberta e não tem uma interpretação única ou correta.
As parábolas do mito cristão são muito pródigas e escritas como metáforas. De tal sorte que inúmeras são as possibilidades de interpretação delas. Por isso uma gama bastante grande de religiões cristãs atribui a si a interpretação correta de tais parábolas e é por isso que há tantas divergências entre elas.
Mito e Rito
O ritual é uma atualização do mito para o momento e o contexto em que se realiza esse rito. O mito é uma mensagem ancestral, um ato realizador do passado, transportá-lo para o aqui e o agora é a função do rito. No mito cristão, por exemplo, a eucaristia é o rito que convida a todos os católicos a participarem da ingestão da hóstia que, consagrada pelo padre, transmuta-se no corpo de Cristo, atualizando a passagem bíblica em que Jesus diz “tomai e comei todos vós, esse é meu corpo”, distribuindo pão a seus discípulos.
Atualizar o mito para o tempo em que se vive é uma condição para que ele funcione no inconsciente de cada um. Da mesma forma, a imprecisão do local e tempo do mito é uma condição importante para que ele assuma a característica de um mito.
Pense na abertura de todos os filmes de Star Wars, por exemplo. “Há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante...”.
Apenas essa frase nos faz mergulhar num universo mítico, pois nos retira do aqui e agora para ingressar-nos num mundo que desconhecemos, no qual algumas regras e convenções não valem. O mesmo se dá em diversos filmes e histórias.
Campbell e o Cinema
Não é a toa que muitos dos filmes que vemos hoje tenham enredos muito parecidos e que apresentam um percurso comum entre seus personagens protagonistas. Quando Joseph Campbell lançou seu primeiro grande livro “O Herói de Mil Faces” (1949) iniciou-se uma série de admiradores que foram diretamente influenciados por ele. Entre eles estavam George Lucas e seu colega de estudos na Escola de Cinema e Televisão da Universidade do Sul da Califórnia, Christopher Vogler. Lucas utilizou muitas das ideias de Campbell na concepção de Star Wars, somente chegando ao seu formato final após algumas conversas com Campbell, já que se tornaram amigos, enquanto Vogler foi contratado pelos Estúdios Disney e criou para essa empresa um lendário memorando corporativo chamado “Um Guia Prático para o Herói de Mil Faces” de sete paginas, nas quais resumia as ideias de Campbell relativas ao caminho comum percorrido pelos heróis de todos os tempos. Esse memorando foi distribuído aos roteiristas da Disney para tentar fazer com que eles escrevessem histórias que ajudassem a empresa a superar uma sequência de fracassos de bilheteria. Com o tempo, esse memorando acabou caindo nas mãos de todos os roteiristas de Hollywood e Christopher Vogler ampliou-o em um livro de 1990 chamado “A Jornada do Escritor: estrutura mítica para roteiristas”.
Monomito ou A Jornada do Herói
Em 1927 Campbell recebeu uma bolsa de estudos para estudar na Europa, após se formar em Literatura Inglesa na Universidade de Columbia (1925). Ele estudou francês, sânscrito e alemão e foi muito influenciado pelo modernismo e pela chamada Geração Perdida, um conjunto de escritores e pensadores que passou pela Primeira Guerra Mundial e viveu um período de quebra das regras vigentes que ficou conhecido como “Os Loucos Anos 20”. Gente como T. S. Eliot, Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald e Ezra Pound. Essa época marcou também o surgimento do Jazz com figuras como Luis Armstrong e Cole Porter. Foi nessa época que conheceu as obras de James Joyce e Thomas Mann, que tiveram forte influencia sobre seu pensamento.
Em 1929 avisou a sua universidade que queria estudar arte moderna, sânscrito e literatura medieval. Foi severamente repreendido e abandonou o doutorado, nunca mais retornando à academia. Tornou-se amigo de John Steinbeck que o incentivou em suas leituras independentes. Essas leituras o levaram a conhecer profundamente o pensamento e se tornar amigo de Carl Gustav Jung e participar do Circulo de Eranos, encontros de escritores e pensadores que discutiam questões da espiritualidade humana. O nome do grupo foi sugerido por Rudolf Otto e significa um banquete que não tem anfitrião, cada convidado traz algo a partilhar com o grupo.
Em 1944 lançou um livro chamado “A Skeleton Key to Finnegans Wake” (ainda sem tradução em português), que é uma análise crítica ao último trabalho de Joyce (Finnegans Wake) que foi o livro inspirador da ideia campbelliana do Monomito ou também conhecido como A Jornada do Herói.
Em O Herói de Mil Faces, Campbell apresenta toda sua teoria psicológica e psicanalítica dos mitos e descreve a Jornada do Herói conforme o quadro abaixo.
Nele podemos ver que o Herói ou Heroína passa, por um percurso que, embora varie na sua forma e aspecto de acordo com o ambiente local em que se passa a história, mantem um caráter simbólico e metafórico.
Jornada do Herói
Um ciclo de etapas marca os heróis e heroínas de qualquer tempo ou cultura. Você pode observa-lo no cinema, nas artes, e nas mitologias. São aspectos do processo de transformação do herói. Já que a aventura do herói não é apenas externa, mas também uma manifestação de seu caráter.
Passo 1 – Mundo Comum
Passo 2 – Chamado à aventura
Passo 3 – Recusa ao chamado
Passo 4 – Encontro com o Mentor
Passo 5 – Travessia do Umbral
Passo 6 – Testes, aliados e inimigos
Passo 7 – Aproximação do objetivo
Passo 8 – Provação máxima
Passo 9 – A conquista da recompensa
Passo 10 – Caminho de volta
Passo 11 – Depuração
Passo 12 – Retorno transformado
Fonte: http://www.heroisemitos.com.br/2012/12/a-jornada-do-heroi.html
a
Etapas da Jornada Interior
Em cada um dos passos podemos nos lembrar de personagens, heróis e heroínas que povoaram e povoam nossas mentes e influenciam nosso caráter sobremaneira.
1- Chamado e recusa à aventura
Sair do universo conhecido, no qual se tem a ilusão do domínio das regras é o primeiro passo.
Difícil não lembrar de Neo tendo que sair pela janela do escritório em Matrix (1999), sob orientação de seu mentor espiritual Morpheus, o deus do sono. Não à toa, mitos e sonhos vêm da mesma fonte, o inconsciente e, dessa forma, a aventura do herói é também uma manifestação de seu caráter e a realização de algo presente em sua psique.
A primeira resposta é a Recusa do Chamado à aventura. Neo diz: “Por que eu? O que foi que eu fiz?” e resolve se entregar aos agentes que o vieram buscar, imaginando que ele continua, assim, sob o controle de regras que ele conhece.
Somente quando ele decide não colaborar na captura de Morpheus e pede o telefonema a que tem direito é que percebe que as regras são outras agora.
Há varias formas de entrar na aventura. Algumas vezes o herói é chamado e recusa, para depois não lhe restar alternativa e ter de empreender a jornada conscientemente, como ocorre com Neo, noutras o herói é atirado na história sem saber onde está indo, como Branca de Neve que é deixada na floresta pelo caçador que lhe diz que fuja, pois sua vida corre perigo. Também é comum o encontro com algum animal ou criatura que o guia até um mundo mágico ou místico como na história da Princesa e o Sapo.
O herói ou heroína pode relutar por algum tempo, mas acabará tendo que aceitar que algo mudou. Trata-se de um momento de ruptura, uma mudança estrutural do sujeito que já não é mais o mesmo, por isso o contexto e o ambiente em que se encontram também não o são.
2- O mentor e a travessia do primeiro limiar
É nesse momento que aparece a(o) mentor espiritual que a(o) ajudará a superar essa etapa desconfortável e lhe fornecerá objetos e ideias que a(o) auxiliarão. É o que faz Obi Wan Kenobi com Luke Skywalker em “Star Wars: uma nova esperança” (Episódio IV – 1978) e Mestre Yoda com o mesmo Luke em “O Império Contra-ataca” (Episódio V - 1980). Enquanto Kenobi oferece o sabre de luz que pertenceu ao pai de Luke e o compromisso de ser um cavaleiro Jedi, Yoda lhe mostra o poder da força e como controla-la.
A travessia do primeiro limiar é uma espécie de treino para os perigos que o herói ou heroína terão de enfrentar, já que o grande inimigo se encontra dentro de cada um de nós. São nossos medos e demônios que nos impedem de realizar coisas. Quando Luke é orientado por Yoda a entrar numa caverna no planeta pantanoso[1] de Dagoba, ele veste seu cinturão com o sabre de luz, embora advertido por Yoda de que ele não precisaria leva-lo. Luke pergunta o que tem lá dentro e Yoda responde: “Só o que levar consigo”. Claramente é uma incursão no inconsciente, fonte de todos os perigos e também de todos os poderes de cada um. Por isto mesmo R2D2, o robô que personifica o aspecto consciente de Luke (e de Anakin antes dele) não consegue descer com ele para ajuda-lo. O que ocorre lá é uma batalha de sabres de luz entre Luke e seu maior medo, ele mesmo, pois quando ele encontra Darth Vader e o derrota, vê dentro da máscara sua própria imagem.
Jung chamava de sombra os aspectos que o sujeito escolhe não apresentar como sendo seus para as pessoas, ao contrario da persona (máscara) que é como ele decide se mostrar ao outro. Ocorre que nem tudo que decidimos jogar para a sombra é ruim, ainda que assim nos pareça em nossa concepção.
O próprio Yoda pode ser interpretado como um aspecto da psique de Luke que estava em sua sombra, por isso sua forma estranha e frágil.
É o “ventre da baleia” o período de gestação do herói/heroína, no qual ele descobre seus aliados e inimigos, suas fraquezas e potencialidades.
Seu mundo começa a se transformar. Não há mais controle sobre os acontecimentos e tudo com que ele pode contar passa pelo seu comprometimento psicológico e moral.
3- O umbral
Nesta etapa o herói/heroína é forçado a cumprir seu papel, ou seja, assumir seu compromisso psicológico e moral, o sacrifício (sacro-oficio) que o levará à realização.
Quando Neo (Matrix) é apresentado ao Oráculo, por exemplo, ela faz toda aquela encenação (como se fosse um passe de Umbanda) para depois lhe dizer: “é, você tem o dom, mas...” no que Neo responde: “eu não sou o escolhido”. Ela diz: “talvez numa outra geração”. Se a conversa acabasse aí, nenhum outro desdobramento seria possível. No entanto, Neo tem um compromisso moral e pergunta: “mas Morpheus acredita que eu sou o escolhido”. É nessa hora que a Oráculo cumpre seu verdadeiro papel dizendo: “pobre Morpheus, o que faremos sem ele? Ele tem uma fé muito grande em você e nada poderá mudar isso. Você terá de fazer uma escolha. A vida de Morpheus esta em suas mãos.” Ao dizer isso ela faz com que Neo pense sobre suas escolhas e compromissos. Ao contrario do que costumeiramente pensamos, nossas escolhas não são atos racionais na maioria das vezes. Somos movidos pelos nossos desejos. O que ela propõem a Neo (na verdade durante os três filmes) é que ele sinta seus desejos e escolhas e os racionalize para entender porque escolheu desta forma. “Conhece-te a ti mesmo” é a frase da porta da cozinha do Oráculo e do portal do Oráculo de Delphos, o oráculo de Apolo o qual Sócrates muito frequentava.
4- O desafio final
É por este meio que Neo começa a perceber suas potencialidades e pensar sobre elas a ponto de decidir entrar na Matrix para salvar Morpheus. O mesmo se dá quando Luke Skywalker resolve tirar a tela do computador de sua nave que o ajudaria a acertar o alvo da Estrela da Morte e resolve seguir o conselho do mentor Ben Kenobi para deixar fluir a Força.
Na minha concepção, o que está em jogo na trilogia de Matrix é se Neo fará a escolha consciente de persistir em si mesmo (usando a ideia de conatus de Baruch de Spinosa), pensando sobre e atendendo seus compromissos psicológicos e morais, como propõe a Oráculo, ou se ele vai fazer escolhas automáticas que levam em conta apenas o calculo racional de vantagens e desvantagens como quer o Arquiteto.
Da mesma forma, Luke e Anakin devem escolher entre ser um Cavaleiro Jedi ou um Lord Sith, ou seja, agir pela intuição aliando sentimento profundo e razão num exercício lento de paciência e interpretação dos fatos da vida ou usar o caminho mais curto da escolha pelo ganho imediato. Note-se que ambos buscam realizar o bem, porém por caminhos divergentes e a escolha desses caminhos trazem consequências.
No fundo uma questão pela qual todos nós temos que passar no nosso dia-a-dia e que diz respeito a um aspecto profundo de nossa psique, quem somos nós no mundo, afinal?
Esse é o grande desafio final, enfrentarmos a nós mesmos, ou como diz Campbell, decidir se vamos atender às imposições impessoais do sistema ou se vamos agir dentro do sistema de forma independente e psicologicamente madura.
5- A recompensa
Ao contrario do que se possa imaginar, a recompensa pela jornada e o enfrentamento de si mesmo não é a felicidade, necessariamente.
Platão dizia que era mais feliz quando era ignorante. Cypher repete a mesma coisa quando entrega Morpheus aos agentes e pede que seja recolocado dentro da Matrix e sua memoria seja apagada.
A recompensa é antes uma chave de leitura do mundo a partir das experiências que temos do que um elixir miraculoso que transforma o mundo.
Existiram 6 Matrix antes da de Neo, segundo o Arquiteto, ou seja, façamos o que façamos o mundo continuará a existir. A tarefa do herói/heroína não é mudar o mundo, mas mudar a si mesmo. É somente mudando a si mesmo que o mundo muda, pois mudamos o modo de ver e agir no mundo. Como diz o menino a Neo: “Não tente entortar a colher, pois isso é impossível. A colher não existe. Em vez disso tente ver a realidade. Entorte a si mesmo e entortará a colher.”
Dessa forma, a felicidade não é um estado a ser alcançado, mas um processo a ser conquistado de apaziguamento e aceitação consciente do papel de cada um nesse mundo.
Oriente e Ocidente
Em suas incursões pela Índia e Japão (1955-56), Campbell toma contato com um outro tipo de mitologia e, portanto, de herói. Enquanto o herói ocidental é sempre ele mesmo, ou seja, mantém sua integridade física e psíquica mesmo sofrendo todo tipo de percalço, o herói oriental é mutável e capaz de ressurgir em outras criaturas, mesmo que em parte, ou seja, ele prescinde de sua integridade física ou psíquica. É como se ele fosse uma ideia, um meme[2], capaz de transmutar-se para outra pessoa que não necessariamente manterá suas características. Além disso, o oriente não se caracteriza pelo dualismo entre bem e mal. Todos são capazes de grandes atos de bravura e bondade e também de cometer as piores atrocidades.
Claramente essa questão está presente na concepção do enredo de Star Wars quando Lucas decide contar a historia do filho (Luke) para depois contar a do pai (Anakin). Ele afirma que tomou essa decisão após uma conversa com Joseph Campbell. Ao fazer isto, Lucas escolhe induzir o leitor/expectador a pensar que há uma essência do herói, Luke, que é boa e repercute na sua irmã, Leia. Porém, nos três episódios que contam a história de Anakin, vemos que um garoto bom que só queria ajudar a todos acaba por gerar a grande força destruidora do mal, mas é também o pai de Luke e Leia.
O bem está permeado pelo mal e o mal não existe sem o bem. Uma ideia muito oriental se pensarmos no principio chinês de Yin e Yang (ver imagem).
Yin Yang: filosofia chinesa
Segundo a filosofia chinesa o yin yang é a representação do positivo e do negativo, sendo o princípio da dualidade, onde o positivo não vive sem o negativo e vice e versa. O I Ching, propõe duas formas de energia existentes,Yin e Yang. O Yin representa a escuridão, o princípio passivo, feminino, frio e noturno. Já o Yang representa a luz, o princípio ativo, masculino, quente e claro. Além disso, também são indicados como o Tigre e o Dragão, representando lados opostos. Quanto mais Yin você possuir, menos Yang terá e, quanto mais Yang possuir menos Yin você terá. Essa filosofia diz que para termos corpo e mente saudável é preciso estar em equilíbrio entre o Yin e o Yang. Há sete leis e doze teoremas da combinação das energias Yin e Yang:
As leis são;
1. Todo o universo é constituído de diferentes manifestações da unidade infinita;
2. Tudo se encontra em constantes transformações;
3. Todas as contrariedades são complementares;
4. Não há duas coisas absolutamente iguais;
5. Tudo possui frente e verso;
6. A frente e o verso são proporcionalmente do mesmo tamanho;
7. Tudo tem um começo e um fim.
Os teoremas são;
1. Yin e Yang são duas extremidades de pura expansão infinita: ambas se apresentam no momento em que a expansão atinge o ponto geométrico da separação, ou seja, quando a energia se divide em dois;
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2. Yin e Yang originam-se continuamente da pura expansão infinita;
3. Yang tende a se afastar do centro; Yin tende a ir para o centro; E ambos produzem energia;
4. Yin atrai Yang e Yang atrai Yin; Yin repele Yin e Yang repele Yang;
5. Quando potencializados, Yin gera o Yang e Yang gera o Yin;
6. A força de repulsão e atração de todas as coisas é proporcional à diferença entre os seus componentes Yin e Yang;
7. Todos os fenômenos têm por origem a combinação entre Yin e Yang em várias proporções;
8. Os fenômenos são passageiros por causa das constantes oscilações das agregações dos componentes Yin e Yang;
9. Tudo tem polaridade;
10. Não há nada neutro;
11. Grande Yin atrai pequeno Yin; o grande Yang atrai o pequeno Yang;
12. Todas as solidificações físicas são Yin no centro e Yang na periferia.
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/yin-yang.htm
Em Star Wars, havia uma profecia que dizia que um Escolhido iria dar equilíbrio à Força. Os Jedi imaginavam que seria uma “pessoa do bem”. Anakin era o escolhido e trouxe equilíbrio à Força fazendo ressurgir o mal a partir do bem. Por isso Yoda diz: “Acho que interpretamos mal a profecia”. A dualidade maniqueísta do ocidente impede que se vejam os pares de opostos como complementares, ao contrário, acredita-se na existência independente do bem. Não à toa, a religião cristã tenha crescido tanto levando a ideia do bem em si mesmo e a proposta de que temos que nos identificar com o bem.
Nas filosofias e religiões orientais a proposta não é essa, mas a do equilíbrio que implica em adotar uma posição que não é de neutralidade, mas de complementaridade entre os lados opostos, abrange e supera as dualidades. Jung propõe a ideia de Sizígia como sendo essa superação. Nela, a soma das partes assume propriedades que não estão em nenhuma das partes.
Se tomarmos o exemplo 5 + 7 = 12, nenhuma das duas partes (5 e 7) são divisíveis por 2 (em números inteiros), mas o resultado de sua soma (12) é. Nesse sentido, o papel do herói/heroína oriental é superar as dualidades e encontrar o equilíbrio.
Em Matrix, Neo não tem apenas de derrotar as máquinas e acabar com a Matrix, mas ligar-se simbioticamente a elas e ele o faz incorporando-se em Smith (no primeiro filme) e permitindo ser incorporado por ele (no terceiro filme), além da apoteótica cena de sua religação ao mainframe em posição de crucifixão (ocidente) do qual emana uma luz em forma de flor de lótus (oriente).
Da mesma forma, a continuidade da saga de Star Wars, agora pelos Estúdios Disney, aponta na mesma direção, quando não vê a tarefa da heroína (finalmente uma mulher!) Rey, como sendo a de destruir o lado sombrio da Força, representada por Kylo Ren, mas o de unir-se a ele de forma consciente (para ambos). Por isso a Ilha onde ela completa seu treinamento tem um templo Jedi que guarda os livros sagrados assentado sobre um templo Sith no subterrâneo. Luke Skywalker, agora o único mestre Jedi sobrevivente não foi capaz de fazer essa façanha, por estar preso à ideia de que o mal deve ser extirpado, pois é fonte do medo. Nesse sentido a história ganha contornos interessantes ao propor que o equilíbrio não está em posicionar-se em um dos lados, mas em identificar-se com a superação das dualidades. Uma ideia campbelliana.
Para viver os mitos
Joseph Campbell não defendia a ideia de que os mitos eram fundamentais na vida de ninguém, mas acreditava que em determinados momentos você é capturado por um mito que ressoa em sua mente e o atira na verdadeira aventura de viver.
Ele dizia que os mitos são como “pistas para as potencialidades espirituais da vida humana”, ou seja, podem ajudar a compreender o momento psicológico e subjetivo pelo qual se passa e, dessa forma, perceber que a vida é feita de ciclos complementares e interligados e que devemos buscar formas de viver no mundo sem ceder às pressões que nos transformariam no que não desejamos ser.
Destarte, a Jornada do Herói pode nos auxiliar em nossa busca por conhecermos mais de nós mesmos.
Durante os últimos anos de sua vida, Campbell reunia-se no mês de seu aniversário (Março) em Esalem na Califórnia, para um seminário que buscava compreender que etapa mítica cada participante se encontrava.
Já pensou sobre qual o mito você está vivendo nesse momento? Qual a sua aventura heroica nesse momento de sua vida?
Referências
ADAMI, A. Memes. Disponível em: https://www.infoescola.com/comunicacao/memes/, acesso em 26/06/2018.
CAMPBELL, J. O Herói de Mil Faces. Circulo do Livro, São Paulo, 1975.
_______ Isto és Tu, redimensionando a metáfora religiosa, Landy, São Paulo, 2002.
_______ O Poder do Mito (documentário). Cultura Marcas, São Paulo, s/d.
CAMPBELL, J.; COUSINEAU, P. A Jornada do Herói. Summus, São Paulo, 2009.
GAFFO, L. De Ulisses a Frankenstein ou do confronto com a natureza exterior à dominação da natureza interior. Globus, São Paulo, 2015.
GIDWITZ, A. Então você quer ser um Jedi?. Seguinte, São Paulo, 2015.
HEROIS E MITOS (blog). A Jornada do Herói. Disponível em: http://www.heroisemitos.com.br/2012/12/a-jornada-do-heroi.html, acesso em 26/06/2018.
IRWIN, W. Matrix, bem-vindo ao deserto do real. Madras, São Paulo, 2006.
PERCÍLIA, E. Yin e Yang. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/yin-yang.htm, acesso em 26/06/2018.
WICKIPEDIA. Christopher Vogler. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Christopher_Vogler, acesso em 26/06/2018.
[1] A água è um simbolo muito frequente em histórias míticas que remete à dinâmica do inconsciente. Como a menina cuja bola dourada com a qual brincava cai na fonte em A Princesa e o Sapo, por exemplo.
[2] Meme é uma ideia ou fragmento dela que repercute em diversos pontos. Meme é um termo criado pelo escritor Richard Dawkins, em seu livro The Selfish Gene (O Gene Egoísta, lançado em 1976), cujo significado é um composto de informações que podem se multiplicar entre os cérebros ou em determinados locais como, livros. A síntese de seu livro é sobre o meme, considerado uma evolução cultural, capaz de se propagar. O Meme pode ser considerado uma ideia, um conceito, sons ou qualquer outra informação que possa ser transmitida rapidamente.
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