Os Impactos Ambientais Causados Pela Ação Humana e o Surgimento de Pandemias.

 Texto produzido pelos estudantes como atividade final da Componente Curricular Temas Transversais e Contemporâneos da Universidade Federal do Sul da Bahia, campus Paulo Freire em Teixeira de Freitas

Máscaras e luvas descartadas podem ser transformadas em biocombustível -  Revista Galileu | Meio Ambiente

UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL DA BAHIA – UFSB 

CENTRO DE FORMAÇÃO EM SAÚDE

TEMAS TRANSVERSAIS E CONTEMPORÂNEOS

 

 

CESAR YUKY NASCIMENTO KAWAKAMI

JOÃO PAULO DA SILVA CHAVES

MARIANA BARBOSA DE PINHO

MARIANA DOS SANTOS CARDOSO

 

Os Impactos Ambientais Causados Pela Ação Humana e o Surgimento de Pandemias.

 

 

            Desde os primórdios da humanidade o ser humano vive um processo constante de coevolução com os diversos organismos existentes na superfície terrestre, incluindo os microrganismos. Entretanto, algumas vezes, por esses seres serem tão pequenos e até mesmo invisíveis a olho nu, são pouco conhecidos, estudados ou negligenciados pelos que não acreditam na sua alta capacidade de influenciar e alterar toda uma pirâmide ecológica. Porém, é inegável dizer que à medida que a interação entre homem e natureza avança, novas relações ecológicas surgem, e consequentemente, novas doenças também.¹

O surgimento do SARS-CoV-2 e posteriormente a propagação do vírus a nível mundial chama a atenção para a interação entre ser humano e natureza, levando sempre em consideração questões culturais e hábitos milenares que são perpetuados através das gerações. Além disso, esse cenário levanta também uma discussão já muito falada, porém pouco praticada: a importância da preservação dos ecossistemas e os cuidados relacionados à saúde humana. Em números, a atual pandemia resultou em 4,19 milhões de mortes em todo o mundo, até o momento em que esse texto foi escrito. E se observarmos tanto nesta, quanto nas anteriores, a clássica tríade epidemiológica se repete com um ciclo de interação entre o agente, hospedeiro suscetível e ambiente.

Sabe-se que grande parte das doenças que surgiram nos últimos anos são transmitidas de animais para humanos, são as chamadas zoonoses. No entanto, esse problema acontece por influência da própria ação do homem, com a destruição do meio ambiente, dos habitats naturais e com o tráfico e consumo de animais silvestres. Os patógenos, como vírus e bactérias, vivem naturalmente no planeta e não causam problemas à saúde humana, desde que estejam em seu ciclo natural, tendo os animais silvestres como principais hospedeiros ou reservatórios naturais. As grandes epidemias ocorrem justamente quando ações do homem interferem nesse ciclo, expondo esse agente a organismos que não evoluíram em conjunto, dificultando uma adaptação e provocando o que chamamos de doença.²

            Somado aos fatores biológicos já citados acima, existe ainda uma questão social e geográfica de grande importância no contexto das pandemias: a globalização e o intenso fluxo de pessoas ao redor do mundo. É indiscutível que a integração entre as pessoas em todo os continentes foi capaz de romper as barreiras do tempo e espaço, trazendo muitos benefícios sociais e econômicos, no entanto, essa intercomunicação também favorece o surgimento de problemas a níveis globais, como a transmissão rápida e massiva de uma doença, ocasionando o que é conhecido como pandemia.¹

            Por outro lado, se para a humanidade uma pandemia é sinônimo de reclusão, privação, insegurança e medo, para a natureza tem sido momentos de alívio e descanso, ainda que algumas pessoas acreditem que essas alterações sejam a curto prazo. No início da pandemia da COVID-19, no primeiro semestre de 2020, e posteriormente com as drásticas medidas de isolamento e distanciamento social, as emissões globais de CO2 atingiram o menor patamar da história e os famosos canais de Veneza voltaram a ter peixes nadando em águas cristalinas.³ Em cidades dos Estados Unidos, alguns animais silvestres foram vistos passeando em centros urbanos e, pela primeira vez em cerca de 80 anos, a montanha Dhauladhar, que faz parte da cordilheira do Himalaia, pôde ser avistada novamente na Índia devido à queda da poluição atmosférica. 

Ao mesmo tempo, infelizmente, milhares de máscaras foram encontradas em rios e mares em todo o mundo. E mesmo com uma doença escancarando na nossa cara a importância da sustentabilidade, a conscientização pós pandemia que muitos esperavam que viesse depois que o caos passasse, pode ser ainda, uma utopia carregada de boas intenções. Além disso, como mais um agravante, o fato das pessoas estarem mais tempo ociosas em casa, fez com que o consumo energético, hídrico e o aumento na produção de lixo aumentasse drasticamente. 

Como podemos ver, inevitavelmente, as pandemias refletem mais do que imaginamos a forma como a humanidade vem se relacionando com o meio ambiente: cada vez mais de forma desequilibrada e desastrosa. Isso começa com a destruição dos habitats silvestres, seja pelos avanços do setor imobiliário ou pela exploração desordenada dos recursos naturais. Tendo suas “casas” destruídas e sem lugar para se abrigarem, os animais silvestres ficam cada vez mais em contato com seres humanos, situação inclusive, que faz com que muitas espécies passem a ser incorporadas em hábitos de alimentação.  

Além disso, com a diminuição dos ecossistemas naturais, muitos animais se adaptam a condições antes somente humanas, e com isso, criam mecanismos de sobrevivência em ambientes urbanos. E é justamente aí que mora um dos perigos que, a priori, pode ser considerado inofensivo.

            Seja pela ingestão de animais silvestres e exóticos na alimentação, ou pelo contato constante com eles no ambiente urbano, os dois cenários colocam em risco a saúde humana na medida em que expõe o organismo humano a patógenos ainda não conhecidos, e por isso, sem defesa natural. Uma vez que muitas espécies de animais são hospedeiros naturais de inúmeros patógenos, eles têm naturalmente mecanismos de se proteger e viver com esses agentes sem que eles lhes causem algum desequilíbrio. Mas o mesmo não acontece com a espécie humana, que não possui um sistema de defesa hábil para travar uma luta com um organismo desconhecido, e resultado: novas doenças logo surgem, colocando em risco a vida humana. 

Como um bônus nessa situação que por si só já é considerada um fator fora da normalidade biológica, temos ainda o processo de globalização, que agrava as condições de propagação e disseminação de doenças. E o que antes era algo pontual, restrito a determinada região ou país, com o trânsito de pessoas em todos os cantos do mundo, logo torna-se uma preocupação mundial, refletindo um quadro de pandemia, no qual são necessárias precauções e medidas a níveis gigantescos a fim de combater um inimigo que sequer conseguimos enxergar.  

A partir disso, fica claro que com essa e outras tantas pandemias pelas quais a humanidade passou - e pode ser que passará -, é mais que urgente que nós mudemos o modo como estamos nos relacionando com o meio ambiente. E isso vai além dos hábitos alimentares; é sobre como produzimos, moramos, como vestimos, e como descartamos. Todos esses fatores, mesmo que indiretamente, são responsáveis por definir como tem sido a nossa relação com esse planeta que nos abriga.

É de grande valia que se tomem medidas necessárias de reorganização do sistema de globalização para um ponto de vista sustentável e ecológico, visando a adoção de um novo ritmo de sociedade, de economia com o ecossistema global e da qualidade ambiental, para que assim se alcance a tão falada qualidade de vida. Compreendendo então, que há uma “carência” de equilíbrio em todas as relações existentes e, principalmente, sobre a importância de ser responsável diretamente pelo meio ambiente que é compartilhado com todos os seres vivos. 

Certamente muitos irão se questionar, mas como executar tudo isso? E esta é um uma indagação muito válida e necessária, tendo em vista que não existe somente uma alternativa para reverter e evitar cenários como os que estamos vivendo atualmente. É preciso que essa situação seja debatida em várias esferas da sociedade, uma vez que, mesmo com a existência de muitos projetos, grande parte dos municípios não conseguem sequer solucionar problemas sociais simples, como saneamento básico e tratamento correto do lixo. Todavia, a solução deve partir de uma ação conjunta de toda a sociedade, começando com ações individuais que cada indivíduo pode fazer, além de iniciativas governamentais e privadas. 

 

 

REFERÊNCIAS 

 

1. PSCHEIDT, Allan Carlos. Ação humana contra o meio ambiente causou a pandemia do coronavírus. [Entrevista concedida a] Erick Gimenes. Brasil de Fato, Brasília,  18 mar. 2020. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2020/03/18/acao-humana-contra-o-meio-ambiente-causou-a-pandemia-do-coronavirus-diz-pesquisador.

 

2. RABELO, Ananza Mara; OLIVEIRA, Danielly Brito de. Impactos ambientais antrópicos e o surgimento de pandemias. UNIFESSPA: Painel reflexão em tempos de crise. 26 mai. 2020. Disponível em: https://acoescovid19.unifesspa.edu.br/2-uncategorised/102-impactos-ambientais-antr%C3%B3picos-e-o-surgimento-de-pandemias.html.

 

3. GUY, Jack; DONATO, Valentina Di. Veneza volta a ter águas cristalinas após ser isolada para conter coronavírus. CNN Brasil. 18 mar. 2020. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/2020/03/18/veneza-volta-a-ter-aguas-cristalinas-apos-ser-isolada-para-conter-coronavirus.

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