Tudo Aqui e Agora - Multiverso ou Esquizofrenia em “Tudo em Todo Lugar ao mesmo Tempo”





 Se você não assistiu o filme talvez não entenda esse texto!

 

Amor, Ódio e Ignorância

Sim, Lacan estava certo. Nossos sentimentos primevos são Amor, Ódio e Ignorância. No entanto, não nesta ordem.

Nascemos com ódio de nossa mãe por nos expulsar do paraíso onde habitávamos aquecidos, protegidos e sem o peso do mundo sobre nós. O choro ao nascer é reflexo da dor do parto, de respirar ar e do impacto do mundo sobre nós. Nunca mais nos livraremos dele.

Odiamos também por não entendermos onde estamos, o que viemos fazer aqui, porque não conseguimos fazer nada sozinhos, porque somos tão débeis e tudo que podemos fazer ao nascer é chorar e odiar.

Percebemos com algum tempo que chorar é bom, pois algo acontece quando choramos. Ora é um peito que vem em nossas bocas nos alimentar, ora é alguma coisa que troca nossas fraldas cagadas ou é alguma coisa que nos balança e canta para ajudar-nos a dormir e esquecer esse sofrimento todo que sentimos.

Com o tempo entendemos que esse “algo” parece que nos reconhece e passamos a reconhecê-lo também e chamá-lo de Mãe. Parece ser uma parte de nós que responde aos nossos impulsos. Tudo começa a ficar bem e a gente começa até a sorrir. Desenvolvemos certa afeição por esse pedaço de nós que nos atende quando precisamos. Começa a nascer um sentimento de aconchego e segurança. Quase um retorno ao paraíso perdido do útero. 

De repente aparece algo que tenta cortar esse pedaço de nós que nos afaga. Ele se chama Pai e a partir daí começamos a perceber que nem ele, nem a Mãe, são extensões nossas. Somos divididos. Forma-se um buraco entre nós e a imagem que vai sendo construída por nós. Mais ódio.

Parte desse ódio vem da ignorância do que se passa, de quem somos e das ameaças de dissolução que sofremos. 

Somente mais tarde, quando já aprendemos a conviver com essas duas figuras e percebemos que não estamos tão desamparados quanto pensávamos, começamos a olhar para nós mesmos e nos reconhecermos como alguém. Separados do que pensávamos estar unidos. Somos cindidos desde o início, mas temos uma imagem unitária de nós mesmos.

Quando esse trabalho de Mãe e Pai tem resultado, podemos olhar para nós mesmos pela visão do outro e nos reconhecermos, como num espelho. Começamos a tomar forma com essa imagem produzida a partir do Outro.

O Amor é, para Lacan (1985), uma paixão secundária. Ela só surge quando podemos reconhecer esse Outro e nós mesmos, deixando, portanto, de ignorar sua existência.

 

Multiverso

Em 1952, Erwin Schrödinger proferiu uma palestra em Dublin avisando com entusiasmo que a ideia da qual ia falar poderia ser tomada como “lunática”. Ele disse que as equações matemáticas que lhe renderam o Premio Nobel apontavam para várias histórias diferentes que aconteciam ao mesmo tempo. Esta talvez seja a primeira referência à possibilidade do Multiverso.

Não deve ser coincidência que imaginemos um Universo, pois já nascemos com essa predisposição a nos vermos como únicos e íntegros. A ideia de diversas versões de nós mesmos ao mesmo tempo, no que ficou conhecido como “universos paralelos” nos parece estranha, ainda que plausível pelas teorias quânticas e relativistas. Várias teorias consideradas pseudocientíficas começaram a surgir desde então: Teoria do Campo-Quântico, Teoria do Tudo, Teoria das Cordas, Teoria M e tantas outras que baseiam-se na constatação de que vivemos num universo quadridimensional, com três dimensões espaciais e uma temporal.

Embora não haja até o momento nenhuma constatação com os rigores da ciência para essas teorias, elas ajudam muito a produzir histórias e filmes de ficção científica. Nos últimos anos cresceu assustadoramente o catálogo de filmes com esta temática nas plataformas de streaming.

Talvez porque estejamos num tempo em que começamos a nos dar conta de que tudo é cindido, variável, volátil a ponto de nossa percepção sobre o tempo parecer acelerá-lo.

O tempo não é mensurável. Quando olhamos para um relógio de ponteiros sabemos ler as horas porque lemos espaço entre os ponteiros. Somos incapazes de dimensionar o tempo. Nossos marcadores dele são biológicos (fome, sono, cansaço, disposição) ou externos (dia, noite, estações do ano).

 

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo

O filme “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” (KWAN; SCHEINERT, 2022) me parece explorar as duas premissas acima.

A segunda mais claramente está presente no próprio título do filme que já sugere a ideia do Multiverso e que é claramente explorada nele por meio da capacidade que um desses “Versos” (o que é chamado no filme de Multiverso Alpha) ter desenvolvido de poder enviar algumas pessoas a outros “Versos” e neles adquirir habilidades que seriam consideradas incomuns no “Verso” de origem.

Evelyn Quan Wang (Michelle Yeoh) é uma cinoamericana que se vê entulhada de papéis a prestar contas para o fisco. Casada com Waymond Wang (Ke Huy Quan) com quem tem uma filha, Joy Wang (Stephanie Hsu) ela não tem tempo para nada. Não escuta o marido que quer conversar com ela sobre o divórcio deles, apesar de amá-la ainda e tentar tratá-la bem, nem com Joy que quer discutir com ela seu namoro com uma outra moça, Becky Sregor (Tallie Medel). Quando ela tenta falar com a filha, tudo que consegue é tecer comentários ríspidos sobre o fato dela estar engordando e sua recusa em reconhecer que a filha é homossexual. Sua lavanderia automática exige dela muito esforço, assim como os cuidados com seu pai Gong Gong (James Hong) que parece estar senil e débil, demandando cuidados. Sendo solicitada o tempo todo, ela não dá conta de atender a tudo e muito menos a si mesma.

Conhecemos esse “Verso” da história por meio de um espelho em outro “Verso” por onde entramos com a câmera e em uma cena podemos ver Waymond realizar algo estranho. Ele chacoalha a cabeça e começa a executar piruetas muito rápidas, algo que ele parecia não ter habilidade de fazer.

Ela, Waymond e o Gong Gong vão até a Receita Federal entregar os papéis para tentar salvar a lavanderia da bancarrota. Waymond nota no hall dos elevadores um casal de velhos que se beijam e tocam despedindo-se. Fica observando paralisado por algum tempo. No elevador, Waymond mais uma vez parece tomado por algo e chacoalha a cabeça de forma estranha. Abre uma sombrinha. Fala de forma diferente com Evelyn dizendo e anotando o que ela deve fazer quando sair do elevador e lhe colocando uma espécie de fone de ouvido. Ela deve se dirigir ao depósito de limpeza do andar. Ela não o faz e senta-se à mesa de Deirdre Beaubeirdre (Jamie Lee Curtis), fiscal da receita orgulhosa por ter ganho vários troféus em forma de plugs anais que ela ostenta em sua mesa que, segundo ela, foram resultado de muito trabalho e dedicação. Os fones de ouvido começam a funcionar e ela então se vê no depósito de material de limpeza com Waymond que diz ter vindo de outro “verso” para salva-la. Ela não acredita e Waymond é morto por dois braços que atravessam a porta e lhe quebram o pescoço. Nesse momento ela olha para um espelho que está ao seu lado e ele se fragmenta em vários pedaços.

A história se desenvolve e o que conseguimos entender é que as viagens no Multiverso se tornaram possíveis para o “Verso” Alpha e é a missão de Waymond salvar Evelyn de Jobu Tupaki (ou Juju Chewbacca) que ameaça destruir todas as versões de Evelyn no Multiverso. Evelyn é ensinada a fazer saltos quânticos pelo Multiverso e a cada um deles revisita sua história. Cenas de seu nascimento e o desgosto do pai por ela ser mulher, da despedida da casa de seu pai que não se esforçou para que ela ficasse, do namoro com Waymond que lhe propôs construirem uma vida juntos, do nascimento da filha. Quando chega ao “Verso” para o qual saltou, ela adquire alguma habilidade que é desenvolvida por ela nesse “Verso” (Kung fu, canto, culinária etc.). Ela descobre que esse tal monstro ameaçador do Multiverso é, na verdade, sua própria filha Joy que foi “abduzida” por uma espécie de vórtice em formato de bagel (rosquinha).

Muitas lutas acontecem, os personagens vão sendo dominados por versões de si mesmos demonstrando muito ódio e tentando matá-la.

Em um dos “Versos” ela é uma atriz muito famosa e está na pré-estreia de seu filme (que é uma versão do “Verso” no qual se passa a história toda. Neste “Verso” ela não é casada com Waymond e aprendeu Kung Fu, tornando-se famosa em função disso. Porém ela reconhece Waymond no alto da escada do cinema e eles passam a conversar. Ele também foi bem sucedido financeiramente com a separação deles ainda na fase do namoro, no entanto diz que ainda a ama.

Evelyn decide não lutar contra Jobu Tupaki por reconhecê-la como sua filha. Com medo de que elas se juntem para destruir os multiversos, Gong Gong (tomado por uma  outra versão sua) se volta contra ela e convoca todos os “incorporados” a destruí-la. Ela sente que deve escutar Jobu Tupaki e assim o faz. Jobu a leva até o lugar onde está o vórtice/bagel que traga tudo que chega perto dela.

De volta a seu verso, Waymond é ferido por Evelyn e mesmo assim faz um discurso em sua defesa, dizendo que acredita nela e que ela será capaz de acabar com Jobu Tupaki.

É nesse momento que Evelyn encontra a chave para fazer isto. O Amor. Ao invés de matar seus adversários passa a oferecer-lhes o amor que eles necessitam. Vai subindo a escada e segura Jobu que está sendo tragada pela rosquinha gigante. Passa a ser ajudada por Gong Gong e Waymond.

No “Verso” da história que acompanhamos, ela esta na festa da lavanderia e a fiscal da receita chega para fechar o estabelecimento. Evelyn tem um surto e arrebenta uma das vidraças da lavanderia e é presa. Waymond convence a Deirdre a libera-la após contar que estavam se separando. Evelyn Abraça e beija Waymond, abraça Deirdre e fuma um cigarro com ela, Segura Joy pela mão e diz ao pai que ela tem alguém que a ama que é Becky, apresentando-a como sua namorada. Joy acha que foi desrespeitoso e jocoso da parte dela e sai correndo. Ao final, Evelyn corre atrás dela e fala com ela. No início só saem mais críticas, mas depois ela diz que nunca ficará distante dela, pois a ama. As pedras com olhos caem da ribanceira e elas se abraçam.

 

Do que trata essa história afinal?

Parece um pastelão com toques de Matrix. Sim, seria isto, não fosse o fato de que o filme aponta para a questão pela qual começamos esse texto.

Se Lacan estava certo e o Amor é uma paixão secundária, ou seja, que surge depois de Ódio e Ignorância, não é possível combater o Ódio com Amor como corriqueiramente se sugere em filmes, livros de autoajuda, histórias românticas e conversas de botequim. O parceiro inseparável do Ódio é a Ignorância e, como sugere Christian Dunker (2020) somente derrotando o segundo será possível vencer o primeiro.

Numa guerra, por exemplo, os soldados são treinados a atirar para matar, são instruídos a jogar bombas e munição de artilharia, mas somente o farão se conseguirem odiar seus adversários. E como se consegue isto? Promovendo informações de que o inimigo é cruel, que não tem os mesmos valores morais que ele, que tratam-se de subumanos, raças sem valor e que são desumanos. Quando esses valores foram devidamente arraigados nos corações e mentes dos soldados a guerra pode acontecer. Quem quiser entender perfeitamente esse mecanismo pode assistir ao episódio “Engenharia Reversa” da série da Netflix “Black Mirror” no qual os soldados têm um chip implantado que os impede de ver que os inimigos que devem matar (chamados de baratas) são na verdade humanos como eles. 

Foi assim que se exterminaram milhões de judeus e índios, escravizaram-se e mataram -se milhões de negros, destruíram-se e saquearam-se cidades e povos através da história. É assim que ainda hoje se consegue implantar uma guerra fratricida como a que ocorre entre Ucrânia e Rússia. É assim que se estabeleceu a polarização entre “esquerda” e “extrema direita” no Brasil. É assim que Donald Trump consegue dividir o país mais poderoso do mundo. A desinformação gera a ignorância e ela leva ao ódio. Tentar combater isto com amor é ineficaz, para dizer o mínimo.

Famílias se desfazem porque as pessoas passam a se ignorar e com o tempo, a se odiar.

Curiosamente, antes do filme no cinema, assisti a uma propaganda da Coca-cola. Nela uma menina chega em casa e vê seu pai trabalhando no computador com fones de ouvido, sua mãe trabalhando num outro computador com fones de ouvido e seu irmão sentado num sofá jogando num tablet com fones de ouvido, cena corriqueira nas famílias atuais de classe média. Ela faz uma cara de agonia e chama seu irmão chacoalhando-o e pedindo que ele a siga até a cozinha onde ambos começam a preparar uma refeição que depois será partilhada pela família toda ao lado da garrafa do refrigerante. O marketing parece ter descoberto Lacan. Só há amor se houver escuta. Se houver escuta não haverá ignorância, não havendo ignorância não triunfará o ódio e poderá surgir o amor.

O amor é uma ilusão de que alguém pode nos preencher das partes que nos faltam, que alguém pode tamponar nossos buracos e desejos. encher aquele vazio que sentimos entre nós e nossa imagem construída. O desejo de que possamos ser o desejo do outro.

Não podemos ser nada disto e não podemos parar de desejar, posto que somos cindidos e nossa marca é a falta, o buraco da rosquinha que a tudo suga.

Se Joy, a Alegria em inglês, não vê outra forma de sentir felicidade que não seja entregando-se às rosquinhas e engordando é porque ela pensa que pelo menos assim terá algum afeto de sua mãe que a ignora, ainda que seja apenas para recriminá-la pela obesidade. Por isso ela é triste. Como sugere Lacan (1985), foi a única forma que ela encontrou de gozo, de ser notada, de ser para a Mãe.

Se Waymond prepara papéis de divórcio e tenta brechas no tempo corrido de  Evelyn para conversar com ela a respeito, sempre fraco e submisso, é porque é a única maneira que ele achou para continuar tentando amá-la não permitindo-se ignorá-la. 

Se Deirdre trabalha exaustivamente para ganhar prêmios com forma de plugs anais é porque tenta tampar o mesmo buraco de ter uma vida sem amor.

Se Evelyn viajou por Multiversos ou se teve uma crise esquizofrênica só os roteiristas poderão responder. Há indícios de uma esquizofrenia nos surtos violentos, nos espelhos fragmentados, a produção fantástica de outras Evelyns, nos descuidos consigo mesma e com os que ama, o peso do cotidiano que cai sobre ela (tudo ao mesmo tempo agora). O fato é que nas supostas viagens aos Multiversos, ela resgata sua história, revê seus traumas e momentos de ruptura e dor, recolhendo deles habilidades que foram sendo deixadas de lado. Nunca exploradas por ela. Deirdre a acusa de ser uma falsária porque ela apresenta notas fiscais de coisas muito diferentes e ela diz que é cantora por isso comprou uma caixa de som e um microfone, da mesma forma é dançarina, professora e tantas outras coisas. Coisas que ela esqueceu. Coisas que nunca realizou. Coisas que ela poderia ter sido.

É disso que trata o filme. Não é sobre Multiversos, mas sobre as muitas versões de si.

Quando caímos no turbilhão do Tudo Aqui Agora, no cotidiano do mundo do consumo, vamos abandonando nossas várias versões de nós mesmos, ignorando-as. Essa ignorância de nós mesmos nos gera ódio de si. Também podemos projetar a ignorância em quem outrora amamos e, dessa forma, vamos alimentando ódios pelos outros e por nós mesmos. No limite, podemos ter crises psicóticas e esquizofrênicas decorrentes disto. Há uma espécie de desintegração do sujeito, característica típica da esquizofrenia (sobre isto ver o texto sobre o filme As Linhas Tortas de Deus, neste blog)

Será preciso um tempo de escuta para que possamos aprender a não ignorar mais. Nem aos outros e nem a nós. Será preciso revisitarmos nossa história, ainda que isto doa. Será preciso olhar de frente nosso passado, recolhendo as versões de nós mesmos que abandonamos pelo caminho. De tal sorte talvez nos amemos e possamos amar alguém sem projeções de nosso desespero. Uma análise é uma possibilidade desse tempo e dessa escuta, neste verso. Já fez a sua hoje?

 

Referências

DUNKER, Christian Ingo Lenz - A paixão da ignorância, escuta entre Psicanálise e educação, São Paulo, Contracorrente, 2020.

KWAN, Daniel; SCHEINERT, Daniel - Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, 2022

LACAN, Jacques Marie - Seminário XI: Os quatro conceitos fundamentais da Psicanálise, São Paulo, Zahar, 1985.

WIKIPÉDIA - Verbete Multiverso, disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Multiverso_(ci%C3%AAncia), 2023.

Comentários

  1. Que texto perfeitos, Gaffo. Se me permitir, gostaria de usar esse texto com meus alunos do ensino médio. Pois, acredito que eles estão perfeitamente inseridos nesse "multiverso"

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    1. Claro! Fique a vontade! Peça eles que deixem comentários aqui se possível. Muito obrigado!

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  2. Gostaria de deixar aqui minha percepção sobre o texto.
    Acredito que em nosso multiverso, criamos muitas versões nossa, pois seria a forma de lidar com problemas e situações, ou até mesmo fugir dela? Assim como mostrado em filmes como Fragmentado e Identidade.
    Obrigado por compartilhar esse texto.
    Elton Américo

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    1. Obrigado Elton! De fato o crescimento dos filmes com essa temática demonstram que há uma emergência (de baixo pera cima) de questões que dizem respeito a nós mesmos. Abraços e obrigado pelo comentário.

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